03 novembro 2009

Variedade Politizada...



Vila do Conde (19.04.1982) -> Porto (20.04.1982)

Envelope dos CTT (Mod.14) destinado à circulação interna de Vales Postais, remetido registado de Vila do Conde para o Porto.


Porte (30$00)
isento de franquia
prémio de registo: 30$00
Franquia: CE 1375

(variedade: arco da forja incompleto)





PB-112 (1980)
curiosidade: a capicua de cinco dígitos no número de ordem da etiqueta de registo


A variedade "arco incompleto" na taxa de 30$00 da emissão "Instrumentos de Trabalho" é deveras curiosa e marcou um singular episódio na filatelia portuguesa. Os CTT tinham prevista para 2 de Janeiro de 1980 a emissão deste selo, inserido no 3° grupo desta emissão ordinária. O folheto informativo fornecido pelos CTT aos filatelistas atesta essa intenção ao ilustrar os oito selos que compunham o grupo - a taxa de 30$00 apresenta-se com o arco da forja incompleto. Todavia, a Portaria n° 26-X1/80, de 9 de Janeiro, autoriza a emissão "omitindo" a taxa de 30$00. A razão (rumor?) para a sua não aprovação terá sido de carácter político: a associação do arco (incompleto) da forja e malho(s) assemelhava-se muito a símbolos da (ex-)U.R.S.S., ou seja, à foice e martelo do Partido Comunista. Então, a "censura" instruiu os CTT a não vender o selo e a retocar a imagem (fecho do arco), entrando no circuito postal apenas em 22 de Fevereiro de 1980. Tardiamente, a 26 de Março, é que se publicou a respectiva Portaria (n° 134/80). Acontece, porém, que os selos "arco incompleto" já tinham sido distribuídos pelas estações postais e, na estação do Peso da Régua, foram inadvertidamente vendidas a um filatelista local duas folhas, tendo o funcionário alegadamente dito que não teria lido o telex entretanto enviado. Naturalmente, houve lugar à especulação filatélica e reclamações várias. De ordinário (emissão base) rapidamente adquiriu o rótulo de selo extraordinário. A variedade era muito procurada e comercializada por valores interessantes na altura, e circulou fácil e legalmente a franquear correspondência. Pressionados e embaraçados com a situação, os Correios e o Ministério da tutela decidiram colocar um ponto final à situação lançando no circuito postal (e mercado) o selo "arco interrompido", em 29 de Janeiro de 1982. Através de requisição, os filatelistas puderam então obter pelo facial tão propalada "raridade".
Este foi um episódio caricato e infundado. Os motivos destes selos são da responsabilidade dos Serviços Artísticos dos CTT, sendo parte (senão a totalidade) dos 22 valores emitidos e distribuídos pelos seis grupos que constituem a emissão, desenhados entre 1970 e 1972 por José Pedro Roque Gameiro Martins Barata que à data exercia as funções de consultor artístico. Ora, este, tal como seu pai (Jaime Martins Barata, a quem sucedeu), não tinha qualquer afinidade com a ideologia comunista, bem pelo contrário. Ambos, pertenceram à "escola" do Secretariado Nacional de Informações (SNI) que era o organismo público responsável pela propaganda política, informação pública, comunicação social, turismo e acção cultural, durante o regime fascista do Estado Novo.


 

1 comentário:

JDM disse...

excelente reconstituição do que se passou na altura! parabéns