Da colecção pessoal do Sr. Eng. Albertino de Figueiredo, coloco uma das jóias da filatelia portuguesa e mundial: trata-se de um fragmento de um documento judicial franqueado com um bloco de 11 selos (100 réis) mais 1 selo (50 réis), todos eles da emissão D.Maria II...
Para que possam conhecer a história desta magnífica peça, transcrevo parte do artigo "Albertino de Figueiredo: o maior comerciante de selos do mundo", publicado no jornal "PÚBLICO", de 8 de Maio de 2006:
"...A Afinsa só entrou em Portugal em 1987. E fê-lo pelo Porto. Albertino de Figueiredo meteu na mala alguns selos nacionais importantes, instalou-se uns dias no Hotel Meridien na Avenida da Boavista e foi pedir conselho a Armando Vieira, talvez a pessoa mais ilustre do mundo filatélico português. Adquiriu três andares na Rua Ricardo Jorge, junto à Igreja da Trindade, para abrir a primeira loja do grupo em Portugal. Depois avançou para Lisboa, para a Rua 1º de Dezembro, ao Rossio, espaço hoje substituído pelas instalações na Rua de Santa Justa. No entretanto foi trazendo na mala valiosos selos portugueses que adquirira ao longo dos anos e vendendo-os a coleccionadores nacionais. "Eu queria" — descontemos por momentos a malícia com que Albertino de Figueiredo pronuncia esta frase — "devolver o que era de Portugal aos portugueses". E remata: "Tendo lucro, claro". Teve lucro e mais um benefício suplementar: pode adquirir a mais valiosa peça da sua colecção particular. Em 1996, foi por a loja do Porto ter na montra o catálogo do leilão da Senhora Perpiñá que a atenção de um cavalheiro de Vila Real, José Gonçalves, foi chamada. Ao ver a base de licitação de certas peças, lembrou-se de um papel com selos que há anos sem fim jazia numa gaveta da secretária do seu pai. De regresso a Vila Real pegou no papel e, um dia que veio a Lisboa, foi a uma firma de leilões saber se lhe davam alguma coisa por aquilo. O homem que o atendeu fez o que é costume nestes casos: disse que, enfim, talvez valesse alguma coisa, não sabia, "nesta altura é tão difícil encontrar quem queira comprar"… Entrou e saiu dos escritórios e, por fim, depois de muito hesitar, lá disse que podia encontrar um cliente que pagasse três mil contos por aquilo. José Gonçalves, que vira outros preços no catálogo da montra, não quis fazer negócio sem ir à Afinsa no Porto. Atendeu-o Pedro Figueiredo, sobrinho de Albertino, que percebeu imediatamente do que se tratava: um documento judicial de 1853, relativo a determinado imposto, em que onze selos D. Maria II de 100 réis e um de 50 réis desempenhavam o papel de pagamento ao Estado. Era uma peça única, impecável, marcada com o carimbo 52 dos Correios do Porto, desconhecida durante 150 anos. Pedro Figueiredo respirou fundo e cumpriu então a política comercial da Afinsa: "Sr. Gonçalves, eu não tenho autonomia para lhe comprar estes selos", disse-lhe. "Mas eles devem valer à volta de 25 mil contos [125.000 EUR]. Se eu obtiver autorização para lhos comprar, quer vendê-los?" José Gonçalves, perante esta oferta mais do que oito vezes superior à anterior, respondeu que sim, que vendia. A peça foi fotocopiada e enviada por fax para Madrid. Mais tarde, Pedro chegou à fala com o tio por telefone: "Então, dou-lhe 25 mil contos?", perguntou. Albertino de Figueiredo tinha a resposta preparada desde o instante em que vira o fax: "Não", ordenou. "É pouco: dá-lhe mais seis mil". [30.000 EUR]"
3 comentários:
Fernando,
Onde parará hoje esta extraordinária peça? Escondida por aí, ou nas mãos das autoridades espanholas?
Pouco tempo antes de rebentar o "Caso Afinsa" teve lugar uma exposição das melhores peças da colecção do Sr Figueiredo no Museu das Comunicações.
Tive oportunidade de as apreciar.
A memória já vai falhando mas, tenho a impressão, de que esta estava incluída na mostra.
Daí para a frente muita àgua correu.
Luciano
Onde é que ela estará?
Se calhar dentro de um cofre lacrado.
Ou talvez não....
Caro Luis: Não puxe por mim... 8-)
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Não me digam que a peça decidiu voltar às origens: processo judicial. Quem sabe, Luciano? Quem sabe... 8-)
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